O CONSELHO DE CLASSE DA ESCOLA ESTADUAL EMBAIXADOR JOSÉ BONIFÁCIO ACONTECEU HOJE.
ALGUMAS PERGUNTAS SURGIRAM E SERÃO RESPONDIDAS COM O TEXTO A SEGUIR
Fonte
Disponiblizado inicialmente na Biblioteca do SIAPE - Sistema de Ação Pedagógica.
Ângela Imaculada
Loureiro de Freitas Dalben
1. INTRODUÇÃO
A escola sente-se hoje pressionada por
inúmeras solicitações da sociedade, no sentido de alterar suas práticas
pedagógicas, já há muito incorporadas e legitimadas. O fracasso escolar e os
elevados índices de evasão e repetência tornaram-se entraves sérios aos
processos de escolarização das massas. Se antes podiam ser justificados por
razões externas à escola, culpabilizando-se as próprias crianças, os jovens e
suas famílias por tais produtos, as pesquisas sociológicas desenvolvidas após a
Segunda metade do século XX trouxeram conhecimentos fundamentais, que geraram
uma nova visão, atribuindo-se à sociedade, como um todo, uma parcela de
responsabilidade pelo processo de discriminação e produção de desigualdades.
Chamada a rever suas práticas, a
escola, como, uma instituição social, encontra-se neste momento num processo
dinâmico de renovação de valores, princípios, conteúdos e formas, na
perspectiva de uma ação significativa, competente e comprometida com a melhoria
de vida da população e com o engajamento em novo tempo.
Entretanto, mudanças de toda ordem
têm-se apresentado como um cardápio, em âmbito mundial, para aqueles que vivem
a instituição em seu cotidiano. Dúvidas, incertezas, descrenças, resistências,
entusiasmos, desejos e dificuldades tornaram-se sentimentos freqüentes entre os
gestores, docentes e toda a comunidade escolar, misturados à expectativa de
novas possibilidades para o desenvolvimento do trabalho educativo.
O
Brasil e especialmente o Estado de Minas vêm investindo na produção de
políticas públicas na área educacional, nos últimos quinze anos, na perspectiva
de democratização do ensino e da escolarização básica, abrindo fronteiras e
apresentando esforços originais na produção de propostas inovadoras.
Nesse sentido, este texto, como
subsídio para a discussão de um dos temas integrantes do Programa de
Capacitação de Diretores da SEE/MG (PROCAD), direciona-se para as
possibilidades de construção de uma prática pedagógica dinâmica e democrática.
O Conselho de Classe será o objeto da discussão escolar, dotado de
características específicas que requerem a atenção dos educadores, neste
momento de conflitos e de decisões, em que necessária se torna a articulação de
ações pedagógicas concretas. Espera-se que sua discussão auxilie os gestores da
escola na identificação e mobilização do projeto pedagógico de sua unidade.
Embora o texto esteja direcionado aos
diretores, seu campo de interesse não se restringe a esse público-alvo, pois o
Conselho de Classe é um órgão colegiado, que trata especificamente da avaliação
do desempenho dos alunos e produz conhecimentos sobre os processos de ensino e
aprendizagem. Portanto, a presença do docente na discussão do tema se faz
fundamental.
2. GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E O LUGAR
DOS CONSELHOS DE CLASSE
2.1
A construção da realidade social da realidade: o individual e o
coletivo
A escola se constrói
na sua relação com a sociedade, sendo um reflexo das necessidades
sócio-culturais de cada época. O processo dialético de construção e
re-construção da cultura escolar desenvolve permanente movimento de legitimação
das formas institucionais que lhe dão concretude e, ao mesmo tempo, vai criando
novas formas ou re-significando as antigas. Esse processo não se faz de um dia
para outro, pois exige dos sujeitos a reflexão crítica de práticas já
sedimentadas e a construção de novas, gradativamente, incorporando as
alterações necessárias, para atender à demanda dos novos tempos.
No entanto, a
atualidade tem apresentado um ritmo acelerado de transformações, e a sociedade
tem vivido uma dinâmica mais acentuada de alterações, num processo frenético.
Sabe-se que tecnologias, idéias e mesmo valores assumidos hoje podem estar
obsoleto amanhã, e o sentimento de impotência advindo dessa situação só se
resolve eliminando-se as práticas individuais de reflexão, análise, avaliação e
decisão solitárias. Mais do que nunca, exige-se, dos sujeitos, além de uma
participação intensa e efetiva, transparência em seus posicionamentos e a
explicitação dos objetivos que norteiam suas decisões. Entretanto, esse
processo, muito embora seja bastante rico, em virtude das características que
lhe imputam dinamicidade, ocorre de maneira nevrálgica e contundente.
2.2 O papel da direção da escola na
condução da gestão democrática
Neste contexto, o diretor de uma escola
precisa ter clareza e discernimento na condução do trabalho pedagógico de sua
unidade, para garantir a definição de objetivos comuns a serem alcançados. O papel de coordenador, por sua vez, consiste
em organizar as diferenças entre as posturas, clarear conflitos e articular
ações, de modo a não perder de vista a riqueza da divergência e da diferença,
na proposição de projetos originais concretos. Torna-se, assim, necessária
a criação de espaços coletivos de reflexão e análise contínuas das práticas
pedagógicas, sociais e escolares, para que todos os educadores - gestores e
professores - participem de maneira democrática e construtiva do processo.
Na gestão democrática, todos são
chamados a apensar, avaliar e agir coletivamente, em face das necessidades de
percorrerem um caminho que se estrutura a partir do diagnóstico das
dificuldades do meio. Nesse trajeto, a equipe de profissionais vai traçando os
objetivos a serem alcançados, os quais nortearão a construção das ações
cotidianas, mediante uma forma original de trabalho. Essa travessia permite a
cada escola a construção coletiva de sua identidade.
Um
diretor atento deverá centrar seu trabalho no processo de caracterização,
problematização e construção do projeto político-pedagógico da escola, devendo, para isso, ser sempre figura
presente, capaz de liderar os rumos desejados no encaminhamento do projeto e
contornar situações, quando o contrário porventura ocorrer. O gestor desenvolve
papel semelhante ao de um "espelho refletor", partindo daquilo que a
realidade pedagógica oferece, dialogando, confrontando, explicitando, exigindo
o distanciamento de todos para a reflexão, avaliação e produção do
conhecimento, com base na prática da sua escoa, em particular. A
freqüente leitura das ações educativas e a explicitação das seleções e opções
feitas cotidianamente são fundamentais para que o grupo se enxergue e se
encontre, em função dos rumos de seu trabalho.
Nesse contexto, instâncias coletivas de
decisão, que fazem parte da estrutura de funcionamento da escola, como os
Colegiados, os Conselhos de Classe, as Assembléias de pais e mestres bem como
grupos de professores em reuniões pedagógicas são fundamentais e merecem toda a
atenção do diretor da unidade, que deverá pautar seu trabalho pelas discussões
e encaminhamentos definidos por tais instâncias.
O Conselho de Classe destaca-se entre
as instâncias colegiadas da escola, por ser capaz de dinamizar a gestão
pedagógica, conforme esboçado anteriormente. Entretanto, para que isso
aconteça, é fundamental que tanto o diretor quanto os professores da escola
estejam atentos aos rumos dados às relações sociais presentes na organização do
ensino e no trabalho escolar como um todo. Dependendo do tipo de relação pedagógica
estabelecida entre os sujeitos e sua prática, assim como do tipo de
conhecimento que se produz nessa relação, os rumos desta instância seguirão os
caminhos da construção crítica e democrática da escola ou, ao contrário,
permanecerão reproduzindo uma cultura escolar apegada ao autoritarismo, à
seletividade e à exclusão social. Sobre essas alternativas discutiremos a
seguir.
3. O QUE É O CONSELHO DE CLASSE?
3.1 Conceituação
O Conselho de Classe é um órgão
colegiado, presente na organização da escola, o qual reúne periodicamente os
vários professores das diversas disciplinas, juntamente com os coordenadores
pedagógicos, supervisores e orientadores educacionais, para refletirem conjuntamente e avaliarem o desempenho pedagógico dos
alunos das diversas turmas, séries ou ciclos. Há algumas características
básicas que o tornam diferente dos demais órgãos colegiados, conferindo-lhe
especial importância no que tange ao desenvolvimento do projeto pedagógico da
escola. São elas: a forma de participação direta, efetiva e entrelaçada dos
profissionais que atuam no processo pedagógico; a organização interdisciplinar;
a centralidade da avaliação escolar como foco de trabalho da instância. Cada
uma dessas características será abordada mais detalhadamente a seguir.
3.2 Características formais
3.2.1 A participação direta dos
profissionais –
Essa característica é prevista nas
normas que disciplinam a constituição dos Conselhos de Classe, garantindo
espaço na reunião a todos os professores que desenvolvem trabalho pedagógico
com as turmas selecionadas para avaliação, de forma a possibilitar-lhes a
oportunidade de analisarem e discutirem em sala de aula. O docente, ao
participar do Conselho de Classe, coloca
como objeto de reflexão sua própria prática pedagógica, tanto em termos de
relação com o aluno como de conteúdo escolar nos processos de ensino e
aprendizagem desenvolvidos.
Esse tipo de participação promove uma
rede de relações envolvendo não só os diversos profissionais da escola, mas os
conteúdos, os turnos e as turmas nos ciclos. Um professor participa de vários
conselhos que, por sua vez, são integrados por professores que participam de
outros vários, especialmente no segundo ciclo. Nessa organização, a
inter-relação entre turnos, séries e áreas é a tônica do processo. A
participação efetiva e entrelaçada, em função da análise direta de questões
vividas cotidianamente pelos diferentes profissionais na sala de aula e na
escola, propicia o desenvolvimento do processo educativo de reflexão e
discussão coletiva sobre o fazer da escola como um todo.
Observa-se que, no segundo ciclo, a
forma de organização do ensino, subdividida em disciplinas variadas, tem
dificultado a interação dos profissionais das diferentes áreas, sendo o Conselho de Classe um dos poucos
momentos na escola que permitem a discussão pedagógica do ensino e da
aprendizagem, de forma situada e integrada. Já no primeiro ciclo, o ensino
não tem apresentado essa organização subdividida em disciplinas; atuando de
maneira globalizada. Entretanto, essa característica não invalida a importância
de discussões de ordem pedagógica entre os vários professores de um mesmo ciclo
ou entre grupos de turmas com características semelhantes, como idade, anos de
escolarização ou atuação em projetos semelhantes.
Como foi dito, o Conselho de Classe é
integrado prioritariamente pelos docentes e pela equipe técnico-pedagógica que
trabalham com turmas de mesma faixa etária, ou de mesma escolaridade, podendo,
sempre que necessário, optar pela participação dos pais e dos alunos das respectivas
turmas.
Entretanto, é interessante salientar
que, embora a participação dos alunos nas reuniões dos Conselhos de Classe
ocorra de forma opcional, o aluno sempre
estará presente, através de seus resultados, sucessos, desenvolvimentos,
resistências, fracassos, necessidades e dificuldades nas discussões pertinentes
à prática de ensino e aprendizagem.
3.2.2 A organização interdisciplinar –
Uma das características fundamentais do
Conselho de Classe é a perspectiva de espaço interdisciplinar de estudo e
tomadas de decisão sobre o trabalho pedagógico desenvolvido na escola. Nesse
sentido o Conselho de Classe é um órgão deliberativo sobre: objetivos a serem
alcançados; uso de metodologias e estratégias de ensino; critérios de seleção
de conteúdos curriculares; projetos coletivos de ensino e atividades; formas,
critérios e instrumentos de avaliação utilizados para o conhecimento do aluno;
formas de acompanhamento dos alunos em seu percurso nos ciclos; critérios para
a apreciação do desempenho dos alunos ao final dos ciclos; elaboração de fichas
de registro do desempenho do aluno, objetivando seu acompanhamento no decorrer
dos ciclos e informação aos pais; formas de relacionamento com a família;
propostas curriculares alternativas para alunos com dificuldades específicas;
adaptação curriculares para alunos portadores de necessidades educativas
especiais; propostas de organização dos estudos complementares.
As reuniões de Conselhos de Classe,
cuja pauta engloba as necessidades de ensino e aprendizagem que se apresentam
no cotidiano escoar, devem ocorrer sempre que consideradas necessárias e podem
ser convocadas por qualquer um dos seus membros, sendo-lhe conferida, nesse
sentido, importância na co-responsabilidade da gestão participativa. Nesse
ponto, é importante levantar a dimensão política que assume a instância, por se
constituir num órgão capaz de propiciar o debate permanente e a geração de
idéias numa produção social.
3.2.3 A centralidade conferida aos
objetivos de ensino e aprendizagem nos trabalhos do Conselho de Classe –
Essa característica
coloca em evidência o Conselho de Classe, em relação às demais instâncias
colegiadas da escola.
As reuniões do
Conselho de Classe estruturam-se a partir de objetivos organizados em função
das necessidades emergentes e serão tais objetivos que definirão o tipo de
organização mais adequada às reuniões, especialmente quanto à escolha dos
participantes. O quadro a seguir explicita os três tipos de organização de
Conselhos de Classe mais freqüentemente encontrados nas escolas. É interessante
salientar que a escolha de uma das formas de trabalho não exclui as demais, mas
possibilita sua contemplação. Deveria ocorrer, sempre que possível, estímulo à
realização concomitante desses vários tipos de Conselho, favorecendo, assim, a
articulação entre professores, alunos e pais, na constituição e construção do
projeto pedagógico da escola, de maneira participativa e dialogada.
Tipos de Organização dos Conselhos de
Classe
N° 1 Todos os professores de uma turma ou
grupo de turmas
N° 2 Equipe técnico - pedagógica
N° 3 Todos os professores de uma turma ou
grupo de turmas.
Equipe técnico- pedagógica.
Alunos das respectivas turmas ou grupo
de representantes.
* Pode contar com a participação dos
pais.
Participantes
.
Um professor.
Toda a turma de alunos ou grupo de
turmas de alunos.
Objetivos
Avaliar
a prática pedagógica como um todo e em cada disciplina ou área de conteúdo.
·
Definir
critérios para a apreciação do desempenho dos alunos nos ciclos.
·
Caracterizar
a turma enquanto um grupo sócio-cultural.
·
Selecionar
e problematizar as necessidades de aprendizagem das turmas.
·
Identificar
alunos com dificuldades específicas de aprendizagem.
·
Selecionar
objetivos de ensino.
·
Estruturar
e avaliar projetos de trabalho.
·
Caracterizar
e problematizar dificuldades de aprendizagem e necessidades de ensino.
·
Conhecer e situar questões emergentes
da relação professor x aluno.
·
Avaliar os projetos desenvolvidos e
sugerir novos.
·
Levantar sugestões de atividades de
ensino e projetos de trabalho.
·
Caracterizar
e problematizar necessidades específicas da relação pedagógica (quanto ao
conteúdo da disciplina, às atividades de ensino, a relação com o professor e a
avaliação da aprendizagem).
·
Discutir objetivos, critérios e formas
de avaliação.
·
Organizar projetos de ensino.
·
Organizar trabalhos de monitoria.
O diretor da escola
deve possibilitar que essas reuniões, especialmente as de tipo 1, sejam
previstas no calendário do ano letivo da escola. Essa previsão facilita o
processo de organização dos encontros, bem como a preparação dos professores,
concorrendo para que ocorram conforme os interesses e necessidades revelados no
decorrer do trabalho pedagógico.
As formas de
organização dos Conselhos de Classe propostas aplicam-se tanto ao 1º como ao 2º
ciclo. No 1º ciclo, as reuniões são organizadas com a participação do coletivo
de professores que trabalham com turmas de mesma faixa etária ou mesma
escolaridade ou propostas de trabalho semelhante. No 2º ciclo, as reuniões
devem ter a participação de todos os professores das diversas disciplinas ou
áreas de conteúdo.
4. PROBLEMATIZANDO OS RUMOS DOS
CONSELHOS DE CLASSE NA GESTÃO ESCOLAR
4.1
A dimensão política das decisões pedagógicas
A gestão democrática
da escola tem sido entendida por muitos como uma questão de cunho simplesmente
administrativo, e a visão política existente no conteúdo pedagógico é
geralmente relegada a segundo plano. Fala-se muito em política educacional, mas
não se tem consciência de que se faz política a todo instante, em nosso próprio
ambiente de trabalho. Os profissionais não se apercebem de que podem reproduzir
uma política de dominação e autoritarismo no momento da escolha de um conteúdo,
de uma forma de avaliação ou na definição de seus objetivos. Não se apercebem
de que essas escolhas definem relações pedagógicas que se encaminharão para um
projeto político-educacional transformador ou não.
Poder-se-iam citar, a
título de exemplo, alguns decisões no processo de ensino, que estão a todo
instante surgindo no cotidiano da escola: a seleção, matrícula e organização
das turmas; a distribuição das aulas entre os professores; o primeiro dia de
aula dos alunos, sua chegada à escola; o processo de atribuição de recompensas
e punições; a rotulação dos alunos em fortes, fracos, médios, lentos, espertos,
disciplinados, carentes; a lista de materiais, os livros didáticos adotados ou
não-adotados; a elaboração dos calendários, horários, planejamentos,
currículos; o processo de recuperação; as festas e comemorações cívicas; o
recreio; o atendimento aos pais; a relação da escola com a família, etc.
Esses são alguns
exemplos de atos pedagógicos e políticos, porque definem uma determinada
posição perante a função social da escola. Definem o "clima" da
organização da instituição, sua força educativa e também o lado onde se
localiza o poder, sendo, portanto, decisões que orientam e direcionam a
política da unidade escolar.
4.2
A organização funcionalista X a organização participativa
O grande desafio atual para a
concretização de processos democráticos de participação está na construção de
práticas já retificadas de uma cultura escolar tradicionalmente instalada. A
escola tem se concretizado, no decorrer dos tempos, pelo domínio de uma atuação
burocratizada e individualizada, em que a participação tem se restringido à
distribuição de atribuições e competências, conforme um regime escolar com
bases numa perspectiva funcionalista de divisão do trabalho, dificultando,
assim, a estruturação de ações integradas.
O estudo da origem dos Conselhos de
Classe no Brasil permitiu constatar que sua implantação se deu a partir de uma
necessidade sentida pela comunidade escolar e por uma reivindicação pedagógica
doa professores, ocasionada por essas características de fragmentação e
isolamento presentes na organização da escola, não tendo conseguido,
entretanto, cumprir o seu intento. Previa-se para os Conselhos de Classe uma
função de cunho essencialmente pedagógico, na perspectiva de auxiliar o
processo avaliativo. Partia-se da necessidade de maior conhecimento do aluno e
do pressuposto de que o processo coletivo de avaliação é qualitativamente
superior ao individual, isto é, um processo de avaliação que englobasse as
diferentes óticas doa diversos profissionais viabilizaria um julgamento mais
criterioso, garantindo melhor atendimento pedagógico e, consequentemente, maior
acerto nas tomadas de decisões. Os Conselhos de classe teriam, assim, o papel
de aglutinar as diferentes análises e avaliações dos diversos profissionais,
permitindo análises globais do aluno, em relação aos trabalhos desenvolvidos, e
a estruturação de trabalhos pedagógicos segundo opções coletivas.
O conhecimento das origens da
configuração da instância é fundamental, porque fornece bases para o
entendimento de sua orientação política inicial e dos rumos tomados no decorrer
dos tempos, permitindo redimensionar os equívocos do passado e construir novas
práticas.
Pesquisa desenvolvida sobre o Conselho
de Classe (DALBEN, 1992) constatou que, ao invés de as práticas dos Conselhos
de Classe se desenvolverem como momentos efetivos de análise, como se discutiu
no item I, o que se verificava nas reuniões era apenas a construção de uma
fotografia da turma por vários profissionais. "Passavam em revista" todos os alunos, verbalizando notas,
resultados ou pontos de vista desconexos, como se estivessem "trocando
figurinhas". Cada professor trazia o seu resultado numérico registrado nos
"diários de classe", e os especialistas, orientador ou supervisor
pedagógicos, que se incumbiam da coordenação dos trabalhos, traziam para a
reunião os gráficos e tabelas organizados previamente, segundo esses resultados
já fornecidos. O processo
transcorria numa interação frágil, com diálogos frios e vazios de conteúdos
pedagógicos, impedindo que as possibilidades de estruturação e mobilização de
ações educativas transformadoras e concretas pudessem ocorrer. O professor
participava dos trabalhos apresentando os seus resultados e fechava-se no seu
ponto de vista, não se predispondo a estabelecer uma discussão sobre os mesmos
ou sobre os critérios utilizados na definição das notas, dos conteúdos
selecionados, das metodologias, das atividades ou dos procedimentos de ensino
que os forneceram. A avaliação escolar apresentava-se presa a medidas de
rendimento, e a discussão centrava-se na figura do aluno como portador de
problemas, que geralmente recaíam sobre a "falta de estudo",
"falta de disciplina" e "falta de interesse" pelas
atividades escolares.
Nesse
contexto, o papel político dos Conselhos de Classe era reforçar e legitimar os
resultados dos alunos, como um veredito final, acabado, já fornecido pelos
professores e registrado em seus diários. Os próprios professores não trocavam suas ansiedades e
dificuldades em face do trabalho docente; não discutiam entre si as diferenças
de posicionamento; tudo transcorria numa relação individualizada e de
isolamento profissional. Assim sendo, o objetivo fundamental da instância, que
seria propiciar a articulação coletiva dos profissionais, num processo de
análise compartilhada, considerando a globalidade de óticas dos professores,
não era atingindo, perdendo-se, assim, um rico potencial no trato das questões
pedagógicas.
Explicações relacionadas à organização
da escola no contexto de implantação da lei 5692/71 e à concepção de ensino
subjacente a essa organização justificam essa prática. A referida lei
estruturava o sistema educacional num clima político pautado pelo
autoritarismo, excluindo a participação de setores representativos da
sociedade.
As concepções de ensino era transmitir
conteúdos instrucionais definidos por especialistas, a partir de critérios
operacionais divididos, distribuídos em etapas e articulados entre si por
pré-requisitos e adequados aos fins previstos por um plano sistêmico de
educação. Esses conteúdos, porque definidos por especialistas, eram considerados
fundamentais e inquestionáveis, sendo o foco dos processos de avaliação
escolar.
Está por sua vez, centrava-se numa
abordagem técnica de procedimentos de medida, cumprindo o papel de emitir um
julgamento, com vistas à classificação do aluno em função do seu desempenho no
processo de assimilação dos conteúdos de ensino. Diante dessa concepção de
avaliação, justifica-se a prática dos Conselhos de Classe de se prenderem à
simples legitimação dos resultados já apresentados pelos professores.
Essa concepção de avaliação estava
presa a um modelo social liberal- conservador (LUCKESI,1995), fundamentado no
discurso da equidade social com bases formais. Nesse contexto, o próprio
indivíduo era o responsável direto por sua educação e pelo desenvolvimento de
suas capacidades e habilidades.
Aqueles que não conseguiam se enquadrar
eram considerados incapazes, desinteressados ou "sem base" e
"fraco". As diferenças sócio- culturais não eram levadas em
consideração, sendo mesmo ignoradas, em função de um ensino padronizado,
segundo um modelo ideal. As diferenças eram justificadas pela ideologia do Dom
e do mérito. O professor também deveria seguir os padrões previamente
definidos, sendo um bom professor aquele capaz de conhecer bem o programa de
conteúdos da sua disciplina e recorrer aos instrumentos didáticos convenientes
às situações pedagógicas vivenciadas.
Se o aluno era identificado como
"problemático", "incapaz", "sem base" ou
"indisciplinado", ele deveria ser "encaminhado". A equipe
técnica se responsabilizaria por isso, convocando os pais e
"entregando" o caso. O trabalho escolar permaneceria no seu rumo,
dentro dos limites do previsto, idealmente considerado adequado.
O Conselho de Classe, como uma
instância coletiva de avaliação do processo de ensino e aprendizagem, refletiu
essas concepções, assim como as limitações e contradições próprias a elas, não
desempenhando o seu papel original de mobilizar a avaliação escolar na
perspectiva de desenvolver um maio conhecimento sobre o aluno, a aprendizagem,
o ensino e a escola.
Nesse sentido, procura-se alertar o
gestor da unidade para o fato de que, da mesma forma que o Conselho de Classe
pode se aproveitar de suas características constitutivas e ser capaz de
direcionar um projeto democrático de atuação pedagógica, pode reificar relações autoritárias e discriminatórias e hegemônicas na
sociedade.
Como exemplo, citam-se formas de
organização das reuniões em muitas escolas que, procurando
"facilitar" a realização das sessões, acionam a ideologia do mérito
de alguns conteúdos escolares sobre outros, considerados menos prioritários.
Assim, a presença dos professores de
Português, Matemática e Ciências às reuniões é indispensável, e a de outros,
como Educação Artística e Educação Física é considerada supérflua, sendo os professores
dessas disciplinas também dispensáveis nas reuniões do Conselho de Classe.
Processos e instrumentos de avaliação utilizados nestas áreas
"dispensáveis" também são desconsiderados, desperdiçando-se a riqueza
da perspectiva globalizante que a discussão coletiva proporcionaria.
5. AVALIAÇÃO ESCOLAR X RELAÇÃO
5.1 Um conceito ampliado de avaliação
escolar
A gestão de uma escola crítica e
participativa se faz pela desconstrução de representações produzidas em
práticas anteriores, desenvolvidas a partir de fundamentos político-pedagógicos
diferentes. Um amplo processo de reflexão/avaliação da prática pedagógica deve
ser instalado, para que os educadores possam desenvolver um questionamento
atento das condições de trabalho dos profissionais e da instância das
concepções de ensino e avaliação predominantes nas discussões e ainda dos
sentidos e significados das avaliações, neste contexto.
Quando se discute o Conselho de Classe,
discutem-se também as concepções de avaliação escolar presentes nas práticas dos
professores e ainda a cultura escolar em geral e a cultura específica da escola
que as vem produzindo. Nesse sentido, a importância dos Conselhos de Classe e
dos processos avaliativos da escola derivam de sua capacidade de alterar as
relações pedagógicas presentes nos diversos espaços da instituição,
alterando-se, assim, a sua própria identidade.
O processo de
avaliação escolar reflete o posicionamento do profissional, sendo fundamentado
pelas concepções de escola, ensino, papel do professor, papel do aluno, etc. a
organização e as condições de trabalho do professor apresentam-se como fatores
determinantes do processo de ensino e orientam as diferentes práticas docentes.
Nesse sentido, torna-se fundamental a ampliação do conceito de avaliação
escolar, porque a construção desse processo envolve muito mais do que a
ação de pensar em novas formas de avaliação, novos instrumentos de verificação
da aprendizagem do aluno ou de alteração dos conteúdos escolares, das provas ou
dos formatos de exercícios ou das questões de prova, etc. a transformação da
prática pedagógica liga-se estreitamente à alteração da concepção de avaliação.
O que se busca, quando se discute a transformação da escola é um novo
posicionamento diante do conhecimento produzido no decorrer dos processos de
avaliação, de modo a ajudar o aluno a aprender mais, e o professor a ensinar
mais. Busca-se um novo espaço escolar, com novas relações estabelecidas entre
os gestores, professores, alunos e a comunidade em geral, que favoreçam um
processo de formação, construído com base na interação e no diálogo entre os
sujeitos e o processo de conhecimento escolar.
As vivências do
professor como docente, o seu modo de vida, seus valores e idéias pessoais
delimitam os campos de observação da prática escolar e aqueles permitidos para
as tomadas de decisões autônomas. Nesse contexto, a realidade é interpretada
diferentemente e, subjetivamente, cada um adota sentidos, significados e se vê
com amplas ou restritas possibilidades de ação e de transformação dessa realidade.
Esse processo dinâmico de apreensão/reflexão/compreensão/organização da
realidade prática constitui o próprio processo de avaliação, sendo, entretanto,
possível de ser construído com base em duas abordagens epistemologicamente
diferentes: a relação pedagógica de hetero- estruturação do conhecimento e a de
inter- estruturação. Assim sendo, dependendo da postura assumida, leituras
diversas serão realizadas e configurarão, consequentemente, a produção de
conhecimentos diferentes sobre essa mesma realidade.
5.2
A relação pedagógica de hetero-estruturação com o conhecimento
A perspectiva de hetero-estruturação do
conhecimento direciona-se para uma abordagem fechada
de organização escolar. O educador, seja ele gestor ou professor, exerce a sua
ação situando-a no instruir, ensinar, formar, num processo que se dá de fora
para dentro, com a preocupação, quando existe, de transmitir bem um
conhecimento que lhe é externo. O avaliador- educador, centrando a sua ação
nesse conteúdo, está autorizado a coagir os sujeitos no sentido da apreensão
dos mesmos, considerados fundamentais para uma futura atividade social. Da
mesma forma, o gestor da escola se sente autorizado a dirigir as ações docentes
a partir de um projeto idealizado, externo à comunidade, acreditando na incorporação
transmissiva do mesmo. Esta abordagem estabelece uma relação descontextualizada
em face dos conteúdos escolares e dos conhecimentos sociais, desconsidera o seu
processo de produção e os toma como material de consumo. Devem ser assimilados
e estão prontos e acabados, porque legitimados como um produto que encarna uma
"verdade" científica, ideológica, religiosa ou de qualquer outra
natureza. Consequentemente, os consumidores estarão também destituídos das
possibilidades de questionamento e de produção de novos conhecimentos diante
deles.
A relação pedagógica de hetero-estruturação é aquela que vem
predominando na cultura escolar, apoiando-se no processo de transmissão de
conteúdos, valores, habilidades e atitudes escolares.
Um grande problema
dessa abordagem é o fato de que, como os próprios educadores foram formados
nessa perspectiva, sua alteração apresenta dificuldades, porque não
experimentaram previamente possibilidades concretas de ação.
Nesse sentido, idéias
de gestão democrática e de relação interativa são, muitas vezes, difíceis de
serem postas em prática, porque, ou não se visualizam alternativas de trabalho
nessa perspectiva ou se acaba impondo, contraditoriamente, esse tipo de gestão,
como se tudo fosse uma simples alteração do conteúdo do discurso pedagógico.
5.3
A relação pedagógica de inter-estruturação com o conhecimento
A mudança na prática escolar deve-se
processar a partir do estabelecimento de uma outra relação pedagógica com a
realidade: a relação de inter-estruturação com o conhecimento. Nesse caso, os
processos de avaliação/reflexão da prática apoiam-se na inter-relação
permanente entre professor/aluno/conhecimentos, denominada aqui de
inter-estruturação. A finalidade do processo de avaliação, nessa perspectiva, é
direcionar-se para um processo de investigação contínua da realidade como um
todo, cabendo aos educadores o papel de captar essa totalidade de relações,
coletando dados e informações sobre o desenvolvimento dos alunos e,
cuidadosamente, registrando suas necessidades e possibilidades. O objetivo da
avaliação não é mais obter um produto pronto e fechado, mas buscar conhecer
cada vez mais o aluno e sua realidade. O processo de ensino transforma-se,
nesse caso, num desafio para o professor, porque, ao mesmo tempo em que busca
intervir no processo de aprendizagem do aluno, sabe que este aluno lhe
oferecerá dados que não conhece, mas que merecem sua atenção, na perspectiva de
construir o próprio processo de ensino. Para isso, precisa estar atento à
investigação das questões que lhe merecem maior investimento pedagógico para,
consequentemente, alterar os encaminhamentos didáticos.
Da mesma forma, diante desse tipo de
relação pedagógica, o diretor da unidade precisa estar atento às necessidades
político-pedagógicas da prática escolar, ciente de que elas lhe solicitarão
posicionamentos e alterações de cunho administrativo.
O aluno, por outro lado, necessita ser
conhecido em suas inúmeras dimensões, em seus conhecimentos, sendo o foco de
todo o trabalho de investigação. Os processos de ensino e aprendizagem, nessa
perspectiva, integram-se na ação educativa, e o processo de avaliação escolar
passa a incluí-los, isto é, os educadores centram o processo de reflexão
/avaliação no aluno, na forma de organizar o ensino, nos recursos utilizados,
nas possibilidades e dificuldades metodológicas e nas condições de trabalho.
É nesse contexto que se constrói a
importância dos Conselhos de classe, resgatando-lhe a concepção original,
discutida no item 3, como espaços de diálogo entre diferentes posturas e
posicionamentos dos diversos profissionais, possibilitando que os pontos de
vista sejam relativizados, diminuindo-se, assim, os erros de avaliação e
permitindo a produção de conhecimentos mais próximos do real.
A lei 5692/71 impediu os Conselhos de
Classe se desenvolvessem a partir de uma perspectiva de produção coletiva de
conhecimentos sobre a escola, o ensino, a aprendizagem e o aluno.
Anteriormente,
os Conselhos de Classe caracterizavam-se prioritariamente por relações sociais
de isolamento, disciplinamento através do tempo, regulando a estada do
professor na escola, na sala de aula, naquilo que podia ser feito. A relação pedagógica de
hetero-estruturação do conhecimento predominava até então na constituição da
organização escolar, e a fragilidade da interação entre os sujeitos determinava
um tipo de ação orientada pela prescrição de atribuições e competências, de
forma burocratizada, com funções fragmentadas, baseadas em projetos
individuais, dificultando a articulação de projetos coletivos.
A instância Conselho de Classe, nesse
contexto, refletiu esse espaço de contradições inerentes às relações sociais
básicas, apresentando-se como a expressão das práticas docentes no seu conjunto
e o retrato vivo do projeto político pedagógico cotidiano da escola.
6. O PAPEL DOS CONSELHOS DE CLASSE NO
PROCESSO AVALIATIVO
As discussões propostas no item I deste
texto apontam para a necessidade atual de construção de relações pedagógicas de
interestruturação do conhecimento e, neste sentido, delimitam uma nova
concepção de avaliação escolar, centrada na análise e reflexão da prática
pedagógica como um todo, trazendo, assim, a necessidade da construção de uma
nova identidade das instâncias colegiadas e, consequentemente, de uma nova
identidade da escola.
Nesse
contexto, o Conselho de Classe resgata o seu papel de dinamizador do projeto
pedagógico da escola, sendo o espaço privilegiado de produção de conhecimento
da escola sobre a escola.
A reflexão/avaliação da prática pedagógica, estruturada num processo dialógico
e interativo, permite matizar os resultados da avaliação do desempenho do
aluno, pela diferença e divergência de olhares, explorando referenciais
diversos, clarificando significados e sentidos pedagógicos, comparando
parâmetros reais e idéias, compartilhando subjetividades e oferecendo uma
dimensão qualitativa, na medida do desempenho do aluno, do professor e da
escola.
Tendo como objetivo de estudo a
avaliação da aprendizagem do aluno, a ação efetiva dessa instância se dá na
reflexão desses resultados para o desenvolvimento de um outro nível de
reflexão, mais global e integrador, situado na reflexão e produção de um
conhecimento sobre o ensino, sobre a aprendizagem e sobre a escola como um
todo. Isso significa a importante possibilidade de os Conselhos de Classe
congregarem em sua prática de reflexão/avaliação a produção de propostas de
intervenção inovadoras, na construção dos projetos pedagógicos coletivos das
escolas, apresentando-se ainda como instância capaz de permitir a formação em
serviço do profissional reflexivo. (DALBEN,1992,NÓVOA, 1992, VEIGA,1996).
Considera-se que a reflexão do
professor sobre o seu próprio trabalho é o melhor instrumento de aprendizagem e
de formação em serviço, já que permite a ele se colocar diante da realidade de
maneira flexível e aberta. Nesse contato com a situação prática, o professor
adquire e constrói novas teorias, esquemas e conceitos, assim como vivência o
processo de aprendizagem. Converte-se num investigador da sala de aula,
tornando-se um avaliador crítico da prática pedagógica, autônomo em suas
decisões, não depende de regras, receitas, normas ou prescrições curriculares
impostas externamente pelos órgãos de administração escolar. Essa nova atitude
do profissional da educação é que, na verdade, irá re-significar as práticas do
Conselho de Classe.
O
diretor, envolvido com a construção democrática da identidade da escola, deverá
ficar atento à dinâmica desse processo, consciente de que o projeto
político-pedagógico real de sua unidade se constrói nessas interações. Da mesma
forma, ele, enquanto um gestor de postura democrática, estará se formando no
desafio dessa mediação.
7. CONCLUSÕES
Exige-se hoje dos profissionais da
escola decisões de toda ordem em face do próprio trabalho. Uma nova abordagem
de avaliação escolar tem sido construída a partir de uma nova epistemologia,
que configura uma nova concepção de ensino/aprendizagem. Proclama-se a
interação permanente entre os diferentes atores da instituição escolar -
diretor x professor x aluno x conhecimento, e o sentido da avaliação
direciona-se para um processo de investigação contínua e dinâmica da relação
pedagógica como um todo, na busca de um autêntico conhecimento dos processos
pelos quais se dá esse fenômeno.
Concepções de relação pedagógica com
bases epistemológicas diferentes têm estruturado a prática escolar e
direcionado a ação política das instâncias colegiadas presentes na escola.
Essas relações ligam-se estreitamente a posturas divergentes diante do
conhecimento e dos processos de avaliação escolar. Nesse sentido, torna-se
fundamental a explicitação das relações que vêm predominando no espaço escolar
para se Ter clareza quanto ao projeto político-pedagógico real que a realidade
prática vem delineando.
Sendo o Conselho de Classe uma
instância integradora, pensar o seu papel diante de uma nova lógica, em que
estejam presentes as atuais formas de organização social e ainda as atuais
condições de trabalho da escola, leva ao repensar de uma nova relação que deve
ser estabelecida entre os profissionais e o seu conteúdo de trabalho. Isso só
se faz numa ação participativa, fundamentada no diálogo com o outro, seja
aluno, professor, comunidade escolar ou sociedade, pois exige que os diversos
olhares sejam considerados em suas próprias diferenças e valorizados pelo que
significam.
Acredita-se que, quando compartilhados em convergência e sintonia, permitirão a
compreensão da complexidade do processo de produção do conhecimento sobre a
relação pedagógica.
Nesse contexto, o processo de ensino é
relativizado e problematizado quanto aos seus objetivos de
transmissão/assimilação, e a avaliação passa a ocupar um lugar mediador na
relação pedagógica, transformando-se numa ação de investigação e reflexão
permanente da prática docente. A avaliação transforma-se num processo permanente
de leitura dessa prática, para a tomada de consciência das suas necessidades,
limitações e possibilidades, tendo em vista o planejamento de ações
apropriadas. Essa nova postura político-pedagógica refere-se à aquisição de um
pensamento autônomo pelo profissional, diante das especificidades de sua
prática.
Assim sendo, é
possível afirmar que o Conselho de Classe está de posse do processo de gestão
político- pedagógica das escola, por meio de seu eixo central, que é a
avaliação escolar, devendo, por isso, ser atentamente considerado na
organização do plano de ação gestora de cada unidade escolar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS :
DALBEN, Ângela I. L. de Freitas. Trabalho
escolar e Conselho de Classe. Campinas:
Papirus,1992.
LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação
educacional escolar: para
além do autoritarismo. In: avaliação da aprendizagem escolar: estudos e
proposições. São Paulo: Cortez,1995.
NÓVOA, António, et. alli. Os
professores e sua formação. Portugal, Lisboa: Publicações Dom
Quixote, 1992.
ROCHA, Any Dutra C. Conselho
de Classe: burocratização
ou participação? 3 ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves,1986.
VEIGA, Ilma P. Alencastro. Ensino
e avaliação: uma
relação intrínseca à organização do trabalho pedagógico. In: Didática: ensino e
suas relações. Campinas, S.P.: Papirus,1996.
BIBLIOGRAFIA COMENTADA
1- ROCHA, Any Dutra C. Conselho de
Classe: burocratização ou participação?
3 ed., Rio de Janeiro: Francisco Alves,1986.
Este livro tem por objetivo
caracterizar as condições de participação individual dos professores no
Conselho de Classe, a partir dos níveis de classificação proposto por MCMULLEN
(1973), quais sejam: nível autoritário, nível de consulta e nível colegiado.
Apresenta uma revisão da literatura sobre os Conselhos de Classe, situando a
origem de sua prática no Brasil.
2- DALBEN, Ângela I. L. de Freitas.
Trabalho escolar e Conselho de Classe. Campinas: Papirus,1992.
O livro analisa as relações sociais no
cotidiano da escola e as dificuldades de articulação coletiva na atual
organização do trabalho. Analisa as práticas dos Conselhos de Classe de uma
escola pública, refletindo sobre suas características, e identifica as diversas
concepções de avaliação, ensino e trabalho pedagógico como os pontos de partida
fundamentais para a construção do trabalho docente em seu cotidiano. Fundamenta
a importância do Conselho de Classe na gestão dos projetos pedagógicos
coletivos da escolas.
3- LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação
educacional escolar: para além do autoritarismo. In: Avaliação da aprendizagem
escolar: estudos e proposições. São Paulo: Cortez,1995.
O artigo discute a avaliação escolar,
situando-a no modelo social dominante na educação brasileira. Identifica o
autoritarismo como uma das principais características da prática da avaliação
educacional escolar e propõe uma discussão visando à ultrapassagem deste
autoritarismo pela ação reflexiva e racional da prática pedagógica.
4- NÓVOA, António, et. alli. Os
professores e sua formação. Portugal, Lisboa: Publicações Dom Quixote,1992.
O livro é composto por artigos de
diversos autores que vêm desenvolvendo pesquisas e discutindo a perspectiva de
formação do professor reflexivo. Embora os artigos sejam elaborados por autores
diversos, apresentam posicionamentos convergentes e centram-se em três idéias
básicas: a necessidade de se travar o debate sobre a formação pedagógica a
partir da análise da prática docente; a identificação de abordagens de formação
técnica , cientifica, e a perspectiva de formação reflexiva; a relação entre
teoria e prática na formação do professor, abordando essa questão clássica na
ótica da reflexão da prática e sobre a prática.
Apontamos este livro como referência na temática, porque consideramos que a
formação de um gestor reflexivo é fundamental na construção de uma prática
pedagógica também reflexiva.
5- VEIGA, Ilma P. Alencastro. Ensino e
avaliação: uma relação intrínseca à organização do trabalho pedagógico. In:
Didática: ensino e suas relações. Campinas: Papirus,1996.
O artigo discute as
características da atual organização do trabalho na escola e na sala de aula e
sua relação com o processo de ensino e a avaliação. Concebendo a escola como um
espaço social marcado por práticas contraditórias, discute a necessidade de se
romper com essa organização.
Segundo a autora, isso só é possível tomando-se a avaliação
num sentido mais amplo, a serviço da aprendizagem do aluno, e pela reflexão da
escola e de suas relações. Nesse processo, a autora situa o Conselho de Classe
como uma instância de efetiva importância.
Fonte
Disponiblizado
inicialmente na Biblioteca do SIAPE - Sistema de Ação Pedagógica.
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